Na última sexta-feira (4), o mercado cripto foi surpreendido por um movimento inédito: cerca de 80 mil bitcoins originalmente minerados em 2011 foram transferidos para novos endereços. Avaliado em aproximadamente US$ 8,6 bilhões (cerca de R$ 46 bilhões), esse foi o maior volume diário já registrado envolvendo moedas paradas por mais de dez anos, segundo análise da CryptoQuant.
As moedas estavam distribuídas em quatro carteiras diferentes, cada uma movimentando 10.000 BTC em sequência, o que chamou a atenção de pesquisadores e analistas da blockchain. Dados da Arkham Intelligence mostram que essas transações partiram de endereços que haviam recebido os ativos há exatos 14 anos, por meio de transações “coinbase” recompensas geradas pela mineração de blocos no início da rede do Bitcoin.
Na época, o bitcoin era negociado a US$ 0,78, o que torna esse movimento ainda mais relevante. A valorização desde então chega a mais de 100.000 vezes para os detentores originais desses ativos. Com o BTC hoje ultrapassando os US$ 109 mil, o impacto financeiro da operação é impressionante e levanta hipóteses sobre o motivo da movimentação.
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Apesar do volume bilionário, não houve qualquer indicação de que os bitcoins foram enviados para exchanges. Ao contrário, os fundos foram redirecionados para novas carteiras, todas ainda inativas no momento da redação desta notícia. Três desses endereços são do tipo SegWit (com prefixo bc1q
) e um do tipo legado (prefixo 1
), indicando uma possível reorganização patrimonial, e não liquidação.
A comunidade especula sobre as razões por trás da movimentação:
- Venda futura discreta: o investidor poderia estar apenas se preparando para vender por meio de lotes menores;
- Segurança contra riscos tecnológicos: há quem acredite que a movimentação seja uma precaução contra avanços em computação quântica;
- Confisco ou sequestro: embora improvável, alguns cogitam uma possível ação forçada, como já ocorreu com governos;
- Reorganização de minerador original: considerando que os endereços vieram de coinbase e consolidavam múltiplas recompensas, é provável que o titular seja um minerador da era inicial.
Conor Grogan, diretor da Coinbase, chegou a afirmar que a entidade por trás das carteiras teria controlado, em seu pico, cerca de 200.000 BTC o que, à cotação atual, superaria US$ 21 bilhões, colocando esse detentor entre os cinco maiores da história do Bitcoin.
Até o momento, nenhuma das moedas foi enviada a corretoras ou exibiu movimentações adicionais que indiquem venda. A transferência foi realizada de forma direta, sem etapas intermediárias, como normalmente ocorre em ações de confisco, por exemplo.
O episódio ressalta o caráter único do Bitcoin: transparente em sua estrutura, mas sem revelar a identidade ou intenções por trás das transações. Enquanto alguns observadores enxergam possíveis implicações de mercado, outros reforçam que tais movimentações não necessariamente precedem uma venda. No histórico do mercado cripto, muitos investidores de longo prazo já demonstraram mover grandes volumes apenas por reorganização de segurança.
Independentemente do motivo, a movimentação de bitcoins adormecidos por mais de uma década reforça o valor estratégico e simbólico desses ativos no ecossistema cripto especialmente em um momento em que o Bitcoin permanece acima dos US$ 100 mil, atraindo atenção institucional e regulatória global.